A educação on-line dá errado, mesmo quando funciona - 15/06/2020

A tela de tarefas registra a entrega de 32 dos 40 alunos. É ainda menor do que na tarefa anterior, quando 5 não mostraram sinais de vida. Na sala de aula remota, onde o professor se apresenta pelo nome das iniciais e, na melhor das hipóteses, fotografias estáticas, 27 delas estão online, depois 21 e finalmente 33 atendem a chamada. Os números estão errados. Eles não podem ser confiáveis ​​para criar estatísticas sobre presença e ausência. Afinal, o que significa estar presente na educação online? O conceito está solto. Pode variar de atenção a ligar o computador e a audição passiva – ou mesmo nenhuma – ao monólogo de um professor. Sempre que me inscrevo em um ambiente de educação a distância, acho que trato principalmente de outra alternativa.

A educação é uma ação consciente e voluntária que permite que uma pessoa se desenvolva física, intelectualmente, socialmente, esteticamente e moralmente. Aqui está uma bela definição do filósofo tunisiano Olivier Reboul no clássico “Filosofia da Educação”. Para que esta oportunidade esteja disponível para todos, três coisas devem ser garantidas. A primeira – a abordagem – é fácil de entender: todos precisam estar na escola. Segunda – também – qualidade: o ensino deve ser consistente e levar à aprendizagem. A terceira – igualdade – apenas recentemente começou a se concentrar: é necessário oferecer uma oportunidade para cada pessoa desenvolver o máximo de seu potencial.

Garantir justiça significa garantir que nenhum aluno, nem mesmo o aluno mais exigente, seja deixado para trás. A atenção é muito maior no ensino fundamental, onde a “visão de tudo” está por trás da redução das taxas de abandono escolar e das distorções de idade. À medida que a escola avança, a igualdade desaparece gradualmente do radar, enquanto no ensino superior não há uma máxima cínica de ensino “apenas para quem está de bom humor”. O resultado óbvio são as taxas de evasão pornográfica, disfarçadas pela culpa dos estudantes. Quem lhe disse para “escolher o caminho errado”?

Mas vamos considerar um cenário ideal: imagine um universo em que cada educador tenha a tarefa de garantir que todos aprendam como prioridade. Vamos continuar com otimismo: as coisas estão indo bem e os alunos estão progredindo à sua maneira. Lá, um vírus perigoso e resistente aparece e segue um caminho virtuoso. As escolas estão fechadas e, se não houver um comando central, cada uma está em vigor: parte interrompe as aulas, parte fica on-line.

Vamos prosseguir com uma alternativa favorável: há uma migração para a educação a distância. Você acha que todo mundo tem acesso à Internet de qualidade. Vamos trabalhar? Primeira série: 10 alunos não se inscrevem. Dos 25 presentes, 20 não falam nada. Trabalho coletivo: dois grupos não dão uma tarefa e não dão satisfação. Hora do exame: aconteceu algo com quatro alunos que entregarão zero no semestre. Soa familiar? Sim: voltamos à situação a partir do primeiro parágrafo.

Em termos de igualdade, a educação a distância, mesmo quando funciona, dá errado. Nem mesmo o professor mais egoísta e a equipe pedagógica mais observadora são capazes de lidar com situações familiares na educação “cara a cara”: os alunos que não vêem o ponto da aula ficam deprimidos e pensam em desistir, que não conseguem lidar com a quantidade de tarefas e aqueles que tenta uma vez, duas vezes, três vezes, mas não entende e desiste.

Inserir esses fenômenos no precário contexto brasileiro – Internet precária, soluções remotas improvisadas, professores enfatizados pelo acúmulo de tarefas e pela pressão da migração digital, pais igualmente cansados ​​e nem sempre disponíveis. A pandemia nos deixará com um monte de estudantes que estão atrasados. Pensar no que faremos com eles hoje é uma tarefa para ontem.

Se na educação tradicional esses alunos invisíveis têm pelo menos a concretude física e a presença que muitas vezes nos incomodam, em um ambiente virtual isso não acontece. Eles são apenas um nome que nunca aparece, um avatar que nunca funciona. A ausência dele não nos incomoda, quando ele realmente não deveria nos deixar dormir.

By Daiana Juli

"Typical internet junkie. Entrepreneur. Reader. Web lover. Thinker. Future teen idol. Bacon scholar. Music aficionado."

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