Brasileiros reconstroem cérebro completo de um dos mais antigos dinossauros – Revista Galileu

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Buriolestes schultzi caçando em uma floresta do Triássico no sul do Brasil (Foto: Márcio L. Castro)

Buriolestes schultzi caçando em uma floresta do Triássico no sul do Brasil (Foto: Márcio L. Castro)

Uma equipe de paleontólogos Brasileiros da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), do Rio Grande do Sul, e da Universidade de São Paulo (USP) publicaram, nesta segunda-feira (2), no jornal Journal of Anatomy, a reconstrução do cérebro Faz Buriolestes Schultzi, um dos dinossauros mais antigo do mundo e que viveu onde hoje é o Brasil e para a Argentina.

O feito inédito foi realizado pelos pesquisadores da UFSM Rodrigo T. Müller, José D. Ferreira, Flávio A. Pretto e Leonardo Kerber, além de Mario Bronzati, da USP. Em 2015, Müller descobriu um esqueleto fossilizado completo no município de São João do Polêsine (RS), a 48 quilômetros de Santa Maria. Com cerca de 233 milhões de anos, o esqueleto pertence a um Buriolestes Schultzi e tem uma raridade: um crânio bem preservado. Foi então que a equipe de especialistas começou a reconstruir o cérebro do dinossauro.

Esse tipo de análise é importante para tentar entender melhor os hábitos comportamentais desses seres. Apenas os tecidos moles, como o do cérebro, dificilmente são preservados por tanto tempo. Para ser capaz de reconstruir o órgãoentão, os paleontologistas usaram tomografias e analisaram as cavidades cranianas. E isso só foi possível porque a estrutura que circunda o cérebro, o neurocrânio, estava bem preservada.

O Buriolestes Schultzi ele tinha um cérebro relativamente pequeno, pesando cerca de 1,5 gramas (pouco mais leve que uma ervilha). “Além disso, a forma do cérebro tem um padrão muito primitivo, que lembra o de um crocodilo”, Descreva os autores em uma declaração. Mas algumas estruturas bem desenvolvidas na região do cerebelo indicam que esse dinossauro tinha uma visão aguçada para rastrear sua presa. Seu olfato, entretanto, era quase inexistente.

Reconstrução do cérebro de Buriolestes schultzi (Foto: Márcio L. Castro)

Reconstrução do cérebro de Buriolestes schultzi (Foto: Márcio L. Castro)

“Os ecossistemas em que o Buriolestes Schultzi viveu foi dominado por outros répteis chamados rincossauros (que não são dinossauros) e também por parentes distantes de mamíferos e crocodilos ”, disse Müller, em uma entrevista por e-mail com GALILEU.

Predecessor do pescoço

Apesar de ser pequeno e carnívoro, o Buriolestes Schultzi era parte de uma linhagem que originou saurópodes, dinossauros gigantes herbívoros de pescoço longo. Esse grupo incluía diplodoco e braquiossauro, alguns dos maiores habitantes da Terra. Para entender como isso evolução, paleontólogos compararam o cérebro do Buriolestes Schultzi com o dos saurópodes.

Uma das descobertas mais curiosas foi o aumento dos bulbos olfativos: no cérebro do Buriolestes Schultzi, essas estruturas responsáveis ​​pelo olfato são pequenas; em saurópodes, bem desenvolvido. “O desenvolvimento de um cheiro aguda pode estar relacionada ao aumento da complexidade dos hábitos sociais dos saurópodes. Porém, a capacidade olfativa também pode ter ajudado esses animais a reconhecerem plantas potencialmente tóxicas ou mesmo detectar a aproximação de predadores ”, escrevem os autores.

Pesquisadores brasileiros também se concentraram na capacidade cognitiva do Buriolestes Schultzi. Para medir sua “inteligência”, eles usaram cálculos que envolvem volume cerebral e peso corporal, e o resultado é o chamado coeficiente de encefalização. No caso de Buriolestes Schultzi, esse coeficiente foi maior do que o dos saurópodes – o que é raro na maioria das cepas de vertebrados, que tendem a aumentar a encefalização com o tempo.

Reconstrução do cérebro e crânio de Buriolestes schultzi (Foto: Márcio L. Castro)

Reconstrução do cérebro e crânio de Buriolestes schultzi (Foto: Márcio L. Castro)

Mas, segundo Müller, a redução no caso dos saurópodes se justifica. “Isso é esperado para animais gigantes, uma vez que já foi observado que animais grandes tendem a ter alometria [a taxa de crescimento de uma estrutura do organismo em relação ao resto do corpo] negativo para o cérebro ”, explica o paleontólogo a GALILEO.

Dieta vantajosa?

Outra descoberta intrigante da pesquisa é que a encefalização de Buriolestes Schultzi foi menor em comparação com os dinossauros carnívoros, como o tiranossauro e Velociraptor. E isso pode ser explicado, em parte, por dieta. “Já foi observado em mamíferos que os animais carnívoros tendem a ter um grau de encefalização maior do que suas presas”, diz Müller. Segundo ele, os animais predadores precisam de certa habilidade cognitiva para capturar suas presas.

Isso não significa que os seres herbívoros não possam ter um bom nível cognitivo. Para escapar de seus caçadores, muitos desses animais também precisam desenvolver uma alta capacidade de reconhecer e alertar sobre os perigos. “Assim, muitos dinossauros herbívoros têm um coeficiente de encefalização muito alto quando comparados a certos dinossauros carnívoros”, destaca o paleontólogo da UFSM.

Novo modelo

Esqueleto fossilizado de Buriolestes schultzi e do paleontólogo Rodrigo Temp Müller (Foto: Divulgação)

Esqueleto fossilizado de Buriolestes schultzi e do paleontólogo Rodrigo Temp Müller (Foto: Divulgação)

Por ser o primeiro cérebro completo de um dos mais antigos dinossauros do mundo, a reconstrução feita por pesquisadores do Brasil será adotada como modelo para futuros estudos anatômicos e propostas evolutivas. Assim, como com os dinossauros, história do nosso planeta, a paleontologia brasileira também deixa sua marca.

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