SÃO PAULO — A organização não-governamental brasileira “Educafro”, liderada pelo padre franciscano David Santos, se prepara para entrar com uma ação contra a Espanha na Corte Europeia de Direitos Humanos por causa de vários ataques racistas contra o jogador de futebol Vinicius Jr. o campeonato nacional espanhol, La Liga.
Desde 2021, Vinicius Jr., atacante brasileiro do Real Madrid de ascendência africana, foi insultado inúmeras vezes por torcedores dos adversários de seu clube em estádios espanhóis. Ele foi repetidamente chamado de “macaco” e ouviu pessoas fazendo barulhos de macaco dizendo-lhe para pegar bananas.
No dia 21 de maio, durante uma partida no Valência contra o clube da cidade, vários torcedores locais criticaram Vinicius, que reagiu e brigou com alguns deles dentro do estádio. Após o jogo, ele reiterou no Twitter que “o racismo é normal na La Liga” e que os clubes incentivam tais ações. Ele acrescentou que lutará contra os racistas até o fim.
O incidente gerou indignação no Brasil, onde Vinicius Jr. é um dos principais jogadores da seleção nacional de futebol. Vários jogadores de futebol e políticos, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se solidarizaram e condenaram os ataques racistas. O governo Lula também divulgou nota lamentando que as autoridades espanholas não tenham agido sobre o caso.
No dia 22 de maio, a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, apagou as luzes da gigantesca escultura por uma hora em sinal de protesto contra o racismo. Em 25 de maio, movimentos de direitos dos negros marcharam no Rio de Janeiro e em Brasília para protestar contra o racismo na Espanha.
No mesmo dia, a Educafro, ONG que defende os direitos dos negros e promove a educação, publicou uma carta pública sobre o caso. A organização manifestou sua desaprovação à agressão de Vinicius Jr. e acusou as autoridades espanholas de não agirem contra os agressores racistas.
“Incidentes anteriores levaram a organização a tomar medidas legais em outubro de 2022 contra Pedro Bravo Jimenez, presidente da Associação Espanhola de Agentes de Jogadores de Futebol, e a emissora MEGA TV”, diz a carta, reproduzindo os comentários racistas feitos por Bravo em um Estação de TV em exibição no ano passado.
Na ocasião, participantes de um debate televisionado discutiram como Vinicius Jr. costuma dançar para comemorar seus gols, prática bastante comum no Brasil. Bravo argumentou que tal hábito era desrespeitoso com os oponentes. Ele disse que Vinicius Jr. “deveria ir para o Sambódromo do Brasil” e que deveria “parar de bancar o macaco”.
A Educafro e outras ONGs brasileiras entraram com uma ação no Brasil algumas semanas depois, pedindo $ 2 milhões em danos. O caso ainda está sendo analisado na Justiça.
A carta mencionava as disposições anti-racismo da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia e a intenção de levar um caso ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
“A Educafro Brasil apoia Vinicius Jr. e se opõe veementemente a tais atos desumanos de racismo. Estamos empenhados em combater todas as formas de discriminação racial [and] “Estamos prontos para tomar medidas adicionais para apoiar não apenas este jogador, mas a causa mais ampla da diversidade e inclusão racial em todos os estádios de futebol”, diz o documento.
Segundo o advogado Marlon Reis, assessor jurídico da Educafro, “a legislação espanhola carece de normas para lidar adequadamente com tais incidentes”.
“As regras aplicáveis nesta situação fazem parte da legislação desportiva e as sanções são muito baixas”, disse. essencial.
A ideia, disse Reis, é agir contra a Espanha e exigir que ela resolva adequadamente essas questões.
“A Espanha tem sido um teatro de racismo no futebol. Vinicius Jr. teve uma atitude corajosa e decidiu revidar. Ele está fazendo algo muito importante contra o racismo no esporte”, argumentou Reis.
A Educafro acredita que o caso terá impacto nas normas não só na Espanha, mas também em outros países europeus e que penas mais duras se tornarão comuns em casos de racismo.
“Entendemos que é hora de criar uma nova consciência sobre o racismo no esporte em todo o mundo. Não podemos mais tolerar isso”, disse o padre David Santos, ativista negro de longa data e fundador da Educafro essencial.
Santos reiterou que a entidade também pressionará a Federação Brasileira de Futebol a adotar um conjunto de regras sobre diversidade étnica.
“Este deve ser um divisor de águas para o esporte na Europa e no Brasil”, concluiu.