O médico muitas vezes se depara com a necessidade de avaliar o que acontecerá com o paciente no futuro (o prognóstico), com base em uma avaliação rápida do estado atual. É com base nessa avaliação que a maioria dos tratamentos é escolhida. Em muitos casos, essa avaliação é simples, basta fazer algumas perguntas e fazer um exame rápido. Mas em outros casos, a condição atual do paciente é complexa e o prognóstico difícil sem uma investigação cuidadosa, com muitos testes e testes.

Mas a urgência exige uma decisão rápida, que depende do prognóstico possível. Um caso típico é uma pessoa que sofreu um ferimento na cabeça e está em coma. O coma é uma condição complexa, com vários graus e múltiplas causas, e a decisão sobre o que fazer deve ser tomada rapidamente. É para momentos como esse que os médicos desenvolveram as chamadas escalas. E a maioria das escalas tem o nome das cidades onde foram desenvolvidas. Uma escala útil é aquela que permite um pequeno número de exames, ou um simples exame, para avaliar a gravidade do caso e tomar as medidas cabíveis. Um bom exemplo é a escala de Glascow (Glascow Coma Scale), usada para avaliar pacientes em coma.

Nessa escala, o médico examina apenas três aspectos. Primeiro, a resposta do olho (que vai de “não abre” para “abre em resposta à dor”, “abre em resposta à voz” e “abre espontaneamente”). Em seguida, examina a resposta verbal (“não faz sons”, “faz sons”, “fala palavras” e “fala confusa”) e finalmente examina a capacidade motora (vai de “não se move”, “estende os membros em resposta à dor “,” Retrai membros anormalmente em resposta à dor “e” responde a comandos verbais “).

Cada reação, em cada uma dessas três avaliações, recebe uma pontuação (de 1 a 6). Depois é só somar os pontos, obter a nota e, olhando uma tabela, pode-se obter um prognóstico aproximado. Não leva mais de 15 minutos, o que é essencial em caso de emergência. Essas escalas, exatamente por serem simples, são difíceis de construir porque é necessário escolher e relacionar sinais simples com o resultado final. Para isso, é necessário analisar um grande número de pacientes para ter certeza de que a escala prevê corretamente e é simples e rápida o suficiente.

A novidade agora é que cientistas criaram uma escala, chamada Dublin-Boston, para avaliar o prognóstico de covid-19 em pacientes com dificuldade de respirar. Já se sabia que o que acontece nesses pacientes é o que os médicos chamam de tempestade de citocinas, ou seja, a quantidade dessas moléculas no sangue varia muito. Os cientistas sabiam que duas citocinas, que têm efeito oposto, aumentam nesse estágio da doença. Um é a interleucina-6 (IL-6) e o outro é a interleucina-10 (IL-10). A IL-6 causa um aumento nos níveis de inflamação, o que dificulta o funcionamento do pulmão. Por outro lado, também aumenta a IL-10, que possui atividade antiinflamatória, ação oposta à da IL-6. Muitas outras moléculas relacionadas às citocinas também variam durante esse estágio da doença. O que os cientistas fizeram foi medir a quantidade de várias moléculas relacionadas à inflamação diariamente em 80 pacientes internados com dificuldades respiratórias.

Além disso, eles acompanharam os pacientes por mais algumas semanas para ver o que acontecia com eles. Eles melhoraram, pioraram, precisaram ser intubados ou morreram?

O que eles descobriram é que se você dividir a quantidade de IL-6 no sangue desses pacientes pela quantidade de IL-10, você obterá um índice que prevê com muita precisão o futuro desses pacientes. Este índice é denominado escala Dublin-Boston. Nessa escala, cada aumento de um ponto corresponde a uma chance 5,6 vezes maior de o paciente piorar. Além disso, quando utilizada no 4º dia de falta de ar, seu valor prediz com precisão como o paciente ficará no 7º dia. Outra grande vantagem dessa escala, e que influenciou na escolha dessas duas interleucinas para compor o índice, é que ambas são facilmente mensurado por laboratórios de análises clínicas e, portanto, pode ser incorporado à rotina dos hospitais.

Se essa escala for adotada, daqui a pouco ouviremos nas conversas entre amigos frases como: “Meu tio está hospitalizado com covid-19, ele está bem e não estamos preocupados porque na escala Dublin-Boston ele tem pontuação de 1, dificilmente vai piorar ”. Claro, se a pontuação for 3, a conversa será diferente. E essa escala provavelmente ajudará os médicos a escolher o melhor tratamento para cada caso.

Meu palpite é que ainda ouviremos muito sobre essa escala. São pequenos avanços como esse que estão gradualmente reduzindo as mortes causadas por covid-19. Boas notícias.

MAIS INFORMAÇÕES: UMA PONTUAÇÃO PROGNÓSTICA LINEAR COM BASE NA RELAÇÃO DE INTERLEUCIN-6 A INTERLEUCIN-10 PREDITA OS RESULTADOS NO COVID-19. LANCET https://doi.org/10.1016/j.ebiom.2020.10302 (2020)

É BIÓLOGO, DADO EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA UNIVERSIDADE DE CORNELL E AUTOR NA CHEGADA DO NOVO CORONAVIRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS, MOSQUITO SLIPPER; E A LONGA MARÇO DOS GRILOS CANIBAIS

By Gabriel Ana

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