No Rio, nem a proibição consegue afastar os foliões das ruas do carnaval

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    Milhares desafiaram a proibição oficial de festas de rua dançando, cantando e se misturando ao ritmo do samba, às vezes sob vigilância policial.

    Outros participaram de eventos mais formais, que foram transferidos para dentro de casa este ano depois que a Prefeitura proibiu os ‘blocos’, os festivais de rua lotados tradicionalmente frequentados por quem não se incomoda com ingressos caros para o desfile oficial no Sambódromo pode ou quer – o deste ano foi adiado para abril porque o Brasil ainda não sobreviveu à onda Omicron.

    “É uma pena que tenha que acontecer assim”, disse Tulio Brasil, diretor de marketing musical de 29 anos que viu um dos festivais de rua não autorizados no centro da cidade.

    “Não faz sentido apressar todo mundo para um lugar fechado quando a rua, um espaço aberto, muito mais arejado, é proibido”, disse.

    As festas dentro de casa — e a taxa de entrada — são uma heresia para muitos brasileiros, que dizem que as festas de quarteirão do Carnaval são essencialmente e historicamente festas do povo e para o povo.

    “Há uma grande hipocrisia nisso tudo”, disse Deivid Domênico, sambista ligado à escola de samba Mangueira. “Em janeiro, quando a onda Omicron estava no auge, eles não tomaram nenhuma ação pública para conter a propagação do vírus; Bares e restaurantes ainda estavam abertos. Mas cancelaram o carnaval.”

    A decisão da cidade de adiar o Carnaval frustrou muitos profissionais e criativos que vivem de um dos maiores festivais do mundo – especialmente porque grandes reuniões internas passaram sem perturbações.

    “Estádios lotados, igrejas lotadas, templos evangélicos, shows, bares, restaurantes, hotéis, AirBnbs”, disse Rita Fernandes, que comanda uma coalizão de quarteirões das áreas mais turísticas da cidade. “Parece bastante contraditório, como se o vírus só se espalhasse nas ruas e nos carnavais”.

    Grandes multidões em shows como os organizados pela maior estrela pop do Brasil Anitta nas últimas semanas surpreenderam os organizadores e foliões do carnaval.

    Para muitos, não parece certo pagar para frequentar “blocos” em um local fechado.

    “O carnaval aqui no Rio é uma festa para os negros, é uma festa para os ‘favelados’, é uma festa para homossexuais, é uma festa onde as mulheres são valorizadas, onde as críticas são feitas e o governo é satirizado”, disse Domênico. “O Carnaval tem raízes, o Mardi Gras tem uma história, uma essência que não podemos esquecer.”

    Quase todas as escolas de samba do Rio estão intimamente ligadas às comunidades da classe trabalhadora. Muitos dos organizadores do carnaval, de figurinistas a compositores de música, de escolas de samba a autoridades de segurança e transporte, estão sentindo o prejuízo financeiro.

    Em fevereiro de 2020, antes da pandemia atingir o Brasil com força total, mais de 2 milhões de turistas viajaram para o Rio e geraram 4 bilhões de reais (cerca de US$ 1 bilhão na época) – um número recorde, disseram as autoridades.

    Apenas cerca de 70.000 pessoas cabem no Sambódromo todas as noites. Outros podem participar de algumas das 500 festas de quarteirões da cidade, que acontecem durante um período de 45 a 60 dias. Grande parte do apelo das feiras de rua está na variedade de temas: qualquer fantasia, ou nenhuma fantasia, está bem.

    Então, a pandemia atingiu e, em 2021, os prefeitos do maior país da América Latina tiveram que cancelar o Carnaval pela primeira vez em um século. As autoridades ameaçaram com uma ação legal contra aqueles que desafiassem a proibição de festas, levando muitos grupos a recorrer a eventos online, streaming de música e danças para seus fãs.

    Mas este ano, como partes do mundo com altas taxas de vacinação voltaram a algum tipo de normalidade, os eventos online não são mais atraentes. “As pessoas estão fartas”, disse Fernandes, da associação do partido de quarteirão.

    Aliás, este ano, apesar do vírus, apareceram inúmeros turistas do exterior e de todo o Brasil. Os hotéis no Rio estavam com cerca de 80% de ocupação em 24 de fevereiro, de acordo com a Associação de Hotéis do Rio.

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    O jornalista da AP Lucas Dumphreys contribuiu para este relatório.

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