São Paulo, Brasil – O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, chegou ao Brasil na segunda-feira pela primeira vez em oito anos para participar de uma cúpula de líderes sul-americanos que começa na terça-feira. Ao chegar à capital Brasília, o líder autoritário se reuniu em particular com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que descreveu o encontro como um “momento histórico”.
A última visita de Maduro ao Brasil foi em 2015 para a posse da ex-presidente Dilma Rousseff, que pertence ao mesmo partido político de Lula. À medida que a situação econômica se deteriorava e os abusos dos direitos humanos por parte do governo venezuelano aumentavam, as relações entre os dois países esfriaram e congelaram completamente durante o mandato de 2019-2022 do presidente de direita Jair Bolsonaro.
O presidente Lula prometeu reatar os laços com o vizinho do norte e se encontrou com Maduro no Palácio do Planalto, local oficial do presidente. Após um encontro à porta fechada, os dois chefes de Estado e de Governo emitiram um comunicado sobre a futura parceria entre os dois países.
“É um prazer recebê-lo de volta aqui”, disse Lula. “É difícil acreditar que se passaram tantos anos sem um diálogo com a autoridade de um país amazônico e vizinho com o qual compartilhamos uma extensa fronteira. Estamos levando as relações internacionais a sério novamente.”
Lula também defendeu a legitimidade do governo de Maduro e criticou o líder da oposição Juan Guaidó, que foi declarado presidente interino da Venezuela pela Assembleia Nacional do país em 2019, mas encerrou sua reivindicação à presidência no início do ano depois de não ter dado um impulso real para encontrar seu afastamento do poder.
“É um absurdo que os defensores da democracia neguem que o senhor é o presidente eleito popularmente da Venezuela e que o cidadão eleito deputado seja reconhecido como presidente”, disse Lula, referindo-se a Guaidó.
“Está em suas mãos, Maduro, construir sua narrativa e virar o jogo para que a Venezuela volte a ser um povo soberano, onde somente seu povo decida, por livre escolha, quem vai governar o país”, acrescentou.
O líder brasileiro também falou em restaurar laços comerciais mais fortes com a Venezuela, dizendo que os dois países já negociaram cerca de US$ 6 bilhões anualmente, mas hoje esse número caiu para cerca de US$ 2 bilhões.
“A relação entre nossos países também pode ser de intercâmbio cultural, econômico, científico e tecnológico no combate ao narcotráfico em nossas fronteiras”, disse Lula.
Maduro agradeceu ao seu homólogo pela recepção calorosa e disse que pretende aprofundar os laços entre os dois países.
“Estamos prontos para retomar as boas relações com os empresários brasileiros”, disse Maduro. “As portas da Venezuela estão abertas, com total garantia para toda a comunidade empresarial de que podemos trabalhar juntos novamente.”
Ele também exigiu que as portas entre Brasil e Venezuela “nunca mais se fechem” e que os dois países permaneçam “sempre unidos”.
“Fantástico, amoroso e importante encontro com o Irmão Presidente Lula. É a retomada da irmandade entre Brasil e Venezuela”, disse o líder autoritário.
Cúpula da América do Sul
A partir de terça-feira, chefes de estado sul-americanos se reunirão em Brasília para discutir as relações entre os países. Os presidentes da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Suriname, Uruguai e Venezuela confirmaram presença na cúpula.
Apenas a presidente do Peru, Dina Boluarte, não pode comparecer devido a obstáculos legais internos em seu país. Em vez disso, ela enviará um representante em seu nome.
Segundo Gisela Padovan, secretária para América Latina e Caribe do Itamaraty, a cúpula visa “reiniciar o diálogo com os países sul-americanos”.
“Reconhecemos que existem diferenças de visão e ideologia entre os países, mas o presidente Lula quer revitalizar esse diálogo baseado em denominadores comuns com os países”, disse Padovan.
Embora o governo brasileiro tenha evitado dar a entender propostas específicas, há expectativa de que os presidentes discutam formas mais concretas de ampliar a integração entre os países, incluindo a possibilidade de criar ou reestruturar um mecanismo de cooperação sul-americana que aproxime todas as nações.
Atualmente não existe um bloco com essas características, pois o Mercosul, por exemplo, é formado apenas por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.