Lula promete priorizar clima e ciência em meio à crise
[RIO DE JANEIRO] Luiz Inácio Lula da Silva prometeu proteger a floresta amazônica e reformular as políticas ambientais do Brasil quando foi eleito presidente pela terceira vez em 30 de outubro.

Mas reviver a ciência, a tecnologia e a inovação e enfrentar as crises ambientais não será pouca coisa após vários anos de cortes orçamentários recorrentes em educação e ciência sob o governo do presidente Jair Bolsonaro.

O manifesto de Lula promete acabar com o desmatamento na Amazônia, reduzir as emissões de gases de efeito estufa, apoiar a agricultura de baixo carbono e a agricultura familiar, reconstruir os órgãos de fiscalização e controle do desmatamento e acabar com a mineração ilegal em terras indígenas.

“Será importante ter uma estratégia econômica que inclua a promoção da ciência e o uso sustentável dos recursos naturais.”

Luiz Antônio Elias, Ex-Secretário Executivo, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Brasil

“O Brasil está pronto para recuperar sua liderança na luta contra a crise climática”, disse Lula a seus apoiadores em São Paulo após sua vitória eleitoral. “O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia vibrante.”

A política ambiental foi uma das principais vítimas do governo Bolsonaro instalado em janeiro de 2019.

De 2019 a 2022, o desmatamento na Amazônia brasileira aumentou 56% em relação a 2016 a 2018 um artigo de Paulo ArtaxoProfessor de Física Ambiental da Universidade de São Paulo.

Policial no centro das atenções

Houve também um aumento de 80% no desmatamento em áreas protegidas, como B. Terras indígenas e áreas protegidas. Além disso, houve uma escalada recorde de incêndios.

A ciência em um sentido mais amplo também sofreu um duro golpe sob Bolsonaro. Em 2014, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico teve um orçamento de cerca de 4,6 bilhões de reais (US$ 900 milhões), enquanto em 2022 esses recursos cairão para US$ 480 milhões dentro da vontade orçamentária de seu governo. E mais da metade desse valor é destinado ao pagamento da dívida pública porque, segundo o governo Bolsonaro, os recursos não têm sido utilizados para a ciência.

Além disso, uma medida provisória decretada por Bolsonaro em agosto restringe o uso de alguns dos recursos do fundo, o que antes era proibido por lei.

“Foram anos de intensa deterioração dos investimentos em ciência e tecnologia, e a vitória de Lula traz a perspectiva de recuperação”, disse Renato Janine, presidente da Sociedade Brasileira de Promoção da Ciência (SBPC). SciDev.Net.

“De fato há [Bolsonaro] tenha promulgado vários mecanismos legais com o veto do Presidente (ou seja, sem a possibilidade de alteração pelo Legislativo), será necessário revogar essas leis e medidas provisórias.”

O financiamento e o investimento em universidades federais e institutos de pesquisa também caíram por cento desde o fim da presidência de Dilma Rousseff, de R$ 10,3 bilhões (cerca de US$ 2 bilhões) para cerca de US$ 900 milhões, mostram números oficiais.

Os orçamentos das principais agências de fomento à pesquisa do Brasil – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – também diminuíram percentualmente nesse período, impactando a disponibilidade de bolsas para mestrado e doutorado.

A cientista biomédica Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências, diz que os locais de pesquisa financiados são fundamentais para o progresso científico.

“Mais de 90% da ciência brasileira é feita em universidades e institutos públicos de pesquisa”, disse SciDev.Net. “Sem educação não há ciência e o novo governo terá que levar isso em conta.”

Janine diz que o governo Lula precisa tomar decisões difíceis, pois ele herda uma crise econômica. O presidente eleito, que tomará posse em 1º de janeiro de 2023, já disse que sua prioridade será acabar com a fome, que assola 33 milhões de pessoas, ou mais de 15% da população.

“Esperam-se soluções rápidas, mas infelizmente não podemos esperar que sejam tão rápidas”, disse o presidente da SBPC.

Nader concorda: “O dano é muito grande. Levaremos pelo menos um ano ou dois para nos organizarmos.”

O economista Luiz Antônio Elias, ex-secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação nos governos Lula e Dilma Rousseff, acredita que será crucial reconstruir o sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação “com uma visão integrada das políticas científicas”.

de LulaPrograma para a Reconstrução e Transformação do Brasil‘ reconhece que a reconstrução do sistema vai ‘servir à inovação tecnológica e social, bem como ao uso sustentável da riqueza do país, à criação de empregos qualificados e à luta contra as alterações climáticas e as ameaças à saúde pública’.

“Será importante uma estratégia econômica que inclua o avanço da ciência e o uso sustentável dos recursos naturais”, acrescenta Elias.

Aproximar a ciência da sociedade será crucial para Janine. “Temos que mostrar às pessoas o quanto a ciência é importante para o desenvolvimento do país e como ela está presente em sua alimentação, roupas e celulares”, disse.

Em seu primeiro discurso como presidente eleito, Lula prometeu reintroduzir conferências nacionais, incluindo uma sobre ciência e tecnologia, para facilitar a participação da comunidade no planejamento de políticas científicas.

Este artigo foi preparado pelo SciDev.Net Latin America and Caribbean Desk e editado para ser conciso e claro.

By Carlos Jorge

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