Cavar fundo: a qualidade do ar do bairro tem implicações além do que se pensava anteriormente
O fato de que a poluição do ar afeta a saúde não é novidade. Estudos anteriores apoiam o fato de que a qualidade do ar, juntamente com outros indicadores de saúde, influencia ainda mais – e até explica – as desigualdades socioeconômicas já existentes. Estudos nos Estados Unidos mostraram que bairros de minorias experimentam níveis mais altos de poluição do que bairros brancos, o que se reflete em seus resultados de saúde. Não só isso, Sharkey et al. (2014) mostram como a maioria dessas áreas “ambientalmente desfavorecidas” tendem a se aglomerar e se transformar em guetos, alienando-as ainda mais de áreas com melhor qualidade do ar ou simplesmente maiores oportunidades econômicas.
Mas, invariavelmente, a maioria dos estudos mapeia os efeitos da poluição do ar na saúde de uma pessoa em relação ao bairro em que vive e às áreas adjacentes a ele. Há um problema: as pessoas que vivem em uma área carente com altos níveis de poluição do ar não passam todo o tempo lá. Estudos recentes mostram que eles podem passar algum tempo longe de suas casas e áreas adjacentes, e muitas vezes se deslocam para áreas distantes a trabalho ou lazer. Se a área em que estão localizados para trabalho ou lazer também apresenta altos níveis de poluição do ar, isso diminui o estresse de morar em um bairro ambientalmente desfavorecido. Por outro lado, os altos níveis de poluição do ar nesta área só vão piorar.
Além disso, é preciso estar ciente de que esses movimentos, embora individuais, não são necessariamente conduzidos individualmente. Em outras palavras, essas redes e fluxos dependem não apenas de escolhas individuais, mas também de conexões institucionais e sociais. Portanto, esses fluxos estão bem documentados em nível comunitário e não apenas em nível individual.
Noli Brazil, uma ecologista humana da Universidade da Califórnia, Davis, tentou responder a essa pergunta acessando dados de celular anônimos sobre o movimento de uma pessoa, juntamente com índices de qualidade do ar. Os dados de telefones celulares aqui foram fornecidos pela SafeGraph, uma organização que monitora e mantém um compêndio de conjuntos de dados geoespaciais para mais de quarenta milhões de smartphones americanos. Isso é usado como proxy para padrões de mobilidade urbana em nível individual para 88 cidades americanas mais populosas. Isso foi complementado por dados de qualidade do ar da Agência de Proteção Ambiental (EPA) sobre a concentração de material particulado (PM 2,5). O parâmetro mede partículas com diâmetro inferior a 2,5 µm que podem ser inaladas em µg/m³. Finalmente, os pontos de dados resultantes foram analisados sob a perspectiva de nível de renda (pobre vs. não pobre) e raça (branco, negro, hispânico, asiático etc.).
Este exercício foi realizado em três níveis espaciais: o bairro residencial, os bairros adjacentes ao edifício residencial e os bairros utilizados para trabalho/lazer/fins sociais. Elas são chamadas de camadas de Vizinhança, Vizinhança e Rede.
O Brasil descobriu que “em média, os bairros para os quais os moradores de comunidades não brancas viajam têm níveis mais altos de PM2,5 do que os bairros associados a comunidades brancas. Os níveis de PM2,5 nas redes hispânicas, negras e asiáticas são 12,4%, 11,5% e 11,5% mais altos, respectivamente, do que os níveis nas redes brancas (7,81). Resultados semelhantes foram encontrados em relação aos níveis de renda, pois as áreas de deslocamento de pessoas de bairros pobres apresentam níveis de PM2,5 6,8% maiores do que as áreas frequentadas por pessoas de bairros não pobres.
Os resultados confirmam estudos epidemiológicos anteriores e não apenas mostram que bairros habitados por grupos hispânicos, negros e asiáticos apresentam níveis consistentemente mais altos de MP 2,5 em comparação com bairros brancos. Enquanto os níveis de PM2,5 foram de 7,81 em bairros brancos, eles permaneceram estáveis em 8,85, 8,72 e 8,74 em bairros hispânicos, negros e asiáticos. Além disso, esses bairros são, previsivelmente, cercados por aqueles com valores semelhantes de PM2,5. Para destacar as diferenças entre raça/etnia e grupos de renda, o Brasil constata que os níveis médios de PM2,5 em bairros residenciais brancos, não pobres, contíguos e em rede são 5,9%, 5,9% e 5,2% inferiores, respectivamente, em bairros pobres. A vantagem dos bairros não pobres sobre os pobres em termos de risco de poluição do ar foi muito menos pronunciada para outros grupos étnicos, como hispânicos, negros e asiáticos.
Dos três níveis espacial-ecológicos aqui examinados, o terceiro, o nível “rede”, ganha importância não só porque raramente é considerado na maioria dos estudos sobre mobilidade urbana, mas também porque – como afirma este estudo – pessoas de etnia negra, hispânica e Os bairros asiáticos viajam para áreas distantes com a mesma frequência que os bairros brancos. Na verdade, os negros percorrem distâncias ainda maiores do que os brancos, enquanto as distâncias de deslocamento entre asiáticos, hispânicos e brancos são um pouco semelhantes. O exame do nível “rede” também revela padrões mais diferenciados. Por exemplo, enquanto os bairros hispânicos – pobres ou não – carregam o maior risco de exposição à poluição do ar, seus moradores viajam para áreas com níveis mais baixos de PM2,5. Isso não se aplica a grupos negros ou asiáticos que se deslocam para áreas com risco de exposição semelhante ou maior do que seus bairros; tornando mais pronunciadas as suas desigualdades com os grupos brancos pobres/não pobres.
A principal conclusão deste exercício é que as disparidades no acesso ao ar puro, tanto em termos de origem étnica quanto de nível de renda, vão muito além de onde as pessoas vivem e que suas ‘redes’ desempenham um papel importante. Sua influência tendeu a ser “subestimada” em estudos anteriores. O Brasil espera que “adotar uma perspectiva de rede também possa aumentar a eficiência na alocação de recursos, concentrando as intervenções nos bairros mais poluídos e visitados dentro de uma rede de mobilidade”.