As armas do Brasil são fundamentais para a perda potencial de Bolsonaro

Por Mauricio Savarese e Victor Caivano | Imprensa associada

SÃO PAULO – A eleição presidencial do Brasil será decidida por dezenas de milhões de pessoas pobres, e elas parecem prontas para derrubar Jair Bolsonaro – seja no primeiro turno no domingo ou em um segundo turno.

O líder de extrema-direita a está lembrando de seu programa de bem-estar pandêmico, que se transformou em uma doação mensal de US$ 112. O favorito na disputa, o ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, está evocando memórias de sua presidência de 2003-2010, quando muitos brasileiros pobres de repente podiam comprar cervejas e churrascos no fim de semana. Em 2014, a ONU retirou o maior país da América Latina de seu mapa da fome.

Desde então, a economia do Brasil caiu, caiu e caiu novamente. Este ano, a economia começou a se recuperar e o desemprego está em seu nível mais baixo desde 2015, mas muitos continuam trabalhando em biscates informais e a inflação desenfreada está tornando inatingíveis até as necessidades básicas.

De acordo com um estudo de várias organizações sem fins lucrativos, incluindo a Oxfam, 33 milhões de brasileiros passaram fome nos seis meses até abril.

Tanto Bolsonaro quanto Lula prometem aumentar os gastos do governo com os pobres se vencerem, o que significaria contornar ou remover um teto constitucional de gastos. Muitos brasileiros desconfiam, principalmente do titular, cuja proposta orçamentária para 2023 não incluiu uma extensão do programa social no mesmo nível.

“Você parece estar associando a continuidade dessa política com mudança (administrativa)”, disse Mario Sérgio Lima, analista sênior para o Brasil da Medley Global Advisors.

Mesmo no estado mais rico do Brasil, os pobres dão um impulso a Silva, que só vestiu o São Paulo uma vez em suas cinco rodadas anteriores. Falando na comunidade Hardscrabble do Jardim Ângela, a líder local Regina Paixão disse que muitos que votaram em Bolsonaro se voltaram contra ele por causa da necessidade. Alguns “não comem carne há séculos” e o culpam, disse ela.

Outra paroquiana, Paula Araújo, que às vezes trabalha como empregada doméstica, passou fome pela primeira vez durante a pandemia. Ela não podia pagar o gás para manter o fogão ligado sob o telhado gotejante de sua pequena casa, então ela usou um ferro elétrico para aquecer suas panelas. Ela cozinhava pacotes de macarrão instantâneo para quase todas as refeições, a maioria deles doações, mas não era suficiente.

Ela e o marido André dizem que o alívio da pandemia não chegou até o final de 2020, quando já passavam fome. O aumento de US$ 37 que Bolsonaro aprovou em agosto como parte de sua campanha foi corroído pela inflação.

“Queremos dormir porque estamos com fome e não podemos dormir porque estamos com fome”, disse Araújo, 46, choroso, à Associated Press. “Eu não votei em Bolsonaro há quatro anos, mas ficaria louco se votasse depois de todo esse tempo.”

A divisão entre os pobres está entre as mais desiguais da disputa: Lula tem 54% de apoio daqueles que ganham menos de dois salários mínimos por mês – o equivalente a US$ 450 – e Bolsonaro apenas 26%, segundo pesquisa Datafolha de 29 de setembro tinha uma margem de erro de mais ou menos dois pontos percentuais.

Brasileiros de baixa renda precisariam intervir no domingo para Lula, mais conhecido como Lula, para ganhar a maioria absoluta dos votos em um campo de vários candidatos e garantir uma vitória no primeiro turno. Embora a votação seja exigida por lei no Brasil, a taxa de abstenção chega a 20%, o que analistas como Lima acreditam que pode levar a um segundo turno em 30 de outubro.

“Este é um grupo que tradicionalmente se abstém mais. Não acho que isso seja decisivo, mas pode reduzir a chance de vitória geral de Lula”, disse.

Mesmo que as abstenções de domingo ajudem Bolsonaro a vencer um segundo turno, ele ainda precisa conquistar alguns brasileiros mais pobres para ter alguma chance de vencer. Esse fato parecia ter escapado à sua atenção em agosto, quando ele disse em entrevista que “não há fome real no Brasil”, e gerou uma enxurrada de críticas por isso.

Desde então, ele mudou de ideia, reconhecendo a fome como um problema urgente, mas atribui suas origens a governadores e prefeitos que impuseram bloqueios durante a pandemia.

William Oliveira, líder comunitário e ativista na Rocinha, a maior favela do Rio, não votou em Bolsonaro há quatro anos, mas o fará desta vez.

Ele acredita que o presidente merece ser reeleito como todos os seus três antecessores. Oliveira diz que entende por que muitos de seus amigos criticam Bolsonaro, mas acha importante os valores cristãos conservadores do titular.

“Não é sobre as críticas que ele está recebendo, a pandemia, um monte de coisas. Dar a ele a oportunidade de um segundo mandato é dar a ele o que outros tiveram que governar. Independentemente de suas fraquezas, Bolsonaro defende a família e isso é fundamental para o nosso governo. Acho que a família é muito importante”, disse Oliveira.

Bolsonaro procurou mudar o debate para as condenações de corrupção de Lula em 2018, que mais tarde foram anuladas pelo mais alto tribunal do país. Ele insistiu que os problemas econômicos da nação não serão resolvidos elegendo um homem que ele chama de ladrão e ex-presidiário.

Seus esforços deram poucos frutos, em parte por causa dos pobres. Analistas esperavam que Bolsonaro carregasse seu estado natal, o Rio de Janeiro, mas pesquisas sugerem que ele está empatado com o ex-presidente mesmo lá.

Fernanda Gomes disse que a previdência que recebeu do governo Bolsonaro não foi suficiente para ganhar aluguel e colocar comida na mesa para seus quatro filhos na Rocinha.

“Mesmo que digam que Lula é ladrão, na época de Lula a gente podia comprar uma TV melhor, os pobres podiam comprar um carro e financiá-lo. A educação foi um pouco melhor, ele deu alguns benefícios”, disse Gomes. “Bolsonaro não fez nada por mim. Pelo contrário, tornou mais difícil para as pessoas de baixa renda”.

Quando uma garoa fria caiu no distrito de Brasilândia, um dos mais pobres de São Paulo, mulheres e crianças se reuniram em um campo de futebol lamacento para receber refeições gratuitas do pastor evangélico Welington da Silva Rodríguez.

Pamela dos Santos Pereira, 33, conseguiu sua parte e saiu às pressas com arroz, feijão e frango. Ela correu para que seu recém-nascido João pudesse rapidamente ter um teto sobre sua cabeça. Ao entrarem em sua cabana de madeira, com chão de terra sob seus pés e um cheiro fétido de esgoto a céu aberto, o bebê chorou.

“Não há mais leite”, disse dos Santos Pereira. “Você deve esperar por sua madrinha quando ela vier.”

By Gabriel Ana

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