* Por Marisse Bonfim
Outubro Rose é uma campanha anual que acontece mundialmente, com o objetivo de chamar a atenção da mulher e da sociedade para a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama, já que, uma vez detectado no início, as chances de cura são de 95% dos casos, de acordo com a pesquisa.
As abordagens da campanha são as mais diversas, desde iluminar prédios na cor rosa, mamografias mutiro, palestras sobre qualidade de vida, abordagem do autoexame, até discussões mais profundas, como os direitos dos pacientes com câncer. Por exemplo, a Lei 12.732, que estabelece 60 dias para o início do tratamento oncológico no SUS e a aprovação do Projeto de Lei (PLS) 6330/2019, que amplia o acesso à quimioterapia oral para usuários de planos de saúde, além de discussões de caráter específico natureza. sociais, como o direito à assistência humanizada ao paciente, principalmente àqueles em tratamento para câncer metastático.
Neste ano, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) lançou o movimento de conscientização Quanto antes melhor. A ideia é chamar a atenção das mulheres para a adoção de um estilo de vida saudável no dia a dia, com a prática de atividades físicas e uma boa alimentação, para prevenir doenças, inclusive o câncer de mama. Além disso, deve-se enfatizar que há muita vida após o câncer de mama e que a atenção à saúde feminina deve ser observada com atenção, principalmente neste momento em que o diagnóstico e o tratamento foram prejudicados e ainda estão sendo retomados por causa da covid-19 pandemia. .
O Instituto Vencer o Cncer, através de uma web series produzida pelo Dr. Fernando Maluf, “Para Saúde Não Há Quarentena”, chama a atenção para o fato de que com a pandemia da covid-19, casos de câncer em estágio avançado vou crescer este ano. Muitas pessoas pararam de fazer seus exames de rotina e muitos pacientes com câncer abandonaram seus tratamentos por conta própria, o que pode resultar em um aumento significativo nos diagnósticos de câncer em estágio avançado nos próximos anos.
Se por um lado a pandemia de covid-19 apresentava uma vulnerabilidade no sistema de saúde, por outro trouxe pontos de reflexão, como os considerados na campanha: a necessidade de estar em dia com a saúde e uma olhar mais nítido para si mesmo.
Caso real
Quando passei pelo câncer em 2017, durante um ano de tratamento, vivenciei e compartilhei com pacientes e ex-pacientes situações que, ao iniciar a pandemia, vi refletidas no contexto atual, mas que até então pareciam invisíveis para a sociedade em geral. Situações que surgem no mês de outubro Rosa e adormecem para o resto do ano.
Os aspectos que aproximam ex-pacientes, oncológicos e a sociedade da pandemia são: resistência, resiliência e ressignificação da vida. Analisando meu ano de prisão para tratamento e o sofrimento da sociedade em geral pela pandemia, consegui traçar alguns paralelos:
Acesso à saúde: a pandemia covid-19 demonstrou uma fragilidade no sistema de saúde, expondo ainda mais os habitantes de pequenas cidades, cujos hospitais nem têm leitos de UTI, muito menos respiradores. Para os pacientes com câncer, principalmente os que dependem do SUS, a luta por um tratamento digno e humanizado ultrapassa as barreiras geográficas. Assim como respiradores para o covid-19, existem problemas que vão desde equipamentos para diagnóstico precoce até hospitais que oferecem tratamento. Os pacientes precisam viajar quilômetros para fazer uma sessão de quimioterapia; outros morrem por falta de acesso a um tratamento específico para seu tipo de câncer.
Aprenda a lidar com perdas em momentos difíceis e delicados: assim como o câncer, que tem um longo período de tratamento, a pandemia se estendeu mais do que esperávamos. Em quase um ano, vimos pessoas da mesma família serem infectadas e adoecerem juntas: enquanto uma fica doente, a outra morre. A realidade do paciente oncológico não é muito diferente, mas desconhecida por muitos. Tratamento para câncer prolongado.
Nesse período, os cuidadores acabam se fragilizando e ocorrem perdas naturais. Assim como no meu caso, em que perdi meu pai por infarto no início do tratamento, ouvi vários relatos de pacientes que sofreram perdas ou tiveram outro vizinho que descobriu um câncer junto com o tratamento.
A incerteza para amanhã (ansiedade): quando recebemos o diagnóstico e iniciamos o tratamento do câncer, um mundo desconhecido. Não sabemos para onde está indo. Bem como aqueles infectados pelo novo Coronavírus. O medo do desconhecido, a incerteza se o tratamento será eficaz, se o respirador será eficaz, se a pessoa sairá viva e essa dívida: vou ficar livre deste vírus?
Assim como as etapas do tratamento do câncer. Cada um à sua maneira: cirurgia, quimioterapia, radioterapia e sempre aquela dúvida: estou livre desse câncer? Lembro que quando fiz o primeiro teste, passei a noite esperando para vomitar, na esperança de sentir as reações que havia lido na internet e visto nos filmes. Mas eu não fiz. Tive outros, outras vezes, e também as reações: desconhecidas e inesperadas, medicamentos e doenças.
Renda reduzida: na pandemia, parte da população teve renda reduzida, houve flexibilidade na jornada de trabalho e desemprego. Pequenos negócios foram devastados e as pessoas se reinventaram para sobreviver financeiramente. Quando uma pessoa saudável, em plena atividade, se depara com um câncer, faz uma cirurgia, faz a segunda, na maioria das vezes recorre a resfriado, licença, depois auxílio-doença (INSS).
Em alguns casos, a receita cai absurdamente. A questão financeira em torno do câncer velado. O que me garantiu paz para parar por um ano foi meu equilíbrio financeiro e o seguro que paguei que pagava o prêmio em vida, para casos de câncer relacionado à saúde da mulher.
Reposicionamento de mercado: já existe uma discussão latente de como será o mercado pós-pandêmico, cargos e empregos, enfim, como as carreiras serão direcionadas. Já o paciente oncológico, quando termina o tratamento e volta ao trabalho, muitas vezes nem está com a cadeira no lugar. Os empregadores não sabem que o funcionário ainda está totalmente abalado psicológica e fisicamente. Pouquíssimas empresas têm sensibilidade para olhar para este momento de reinserção.
Abordar ou perder membros da família por morar junto: a pandemia revelou uma sociedade de pessoas se descobrindo em suas próprias casas. Casais fortalecendo laços e outros se separando. Para a mulher com câncer, esse é um ponto muito discutido. Muitos são abandonados por companheiros em tratamento completo. Muitos cuidadores se afastam do paciente. Em outros casos, as famílias são fortalecidas, infelizmente em menor grau.
Cuidado extra com imunidade e higiene pessoal: a pessoa em quimioterapia, na maioria das vezes, tem imunidade comprometida e precisa de cuidados extras com a alimentação. Lembro-me que não conseguia comer fora de casa durante o tratamento, principalmente alimentos crus. E eu adoro salada. Foram 11 meses comendo em casa. Sem gosto. A maioria dos pacientes em tratamento passa por muitas situações restritas. Quantas vezes você já viu alguém careca e usando máscara no supermercado antes da pandemia? Então, era alguém em tratamento de câncer.
Vaidade: em tempos de pandemia, qual é o preço da vaidade? Lembro-me de ouvir queixas de celebridades e pessoas anônimas recentemente como: “Não escovava há quatro meses, deixei crescer minhas sobrancelhas, não escovei as unhas há seis meses!” Choque na mídia, porque as atrizes assumiram os fios brancos. E quando o paciente inicia o tratamento do câncer? Perdemos cabelos, sobrancelhas, às vezes caem as unhas; alguns perdem ou seios, outros, parte deles; perda de peso, inchaço. E o que resta de lio?
Momentos de introspecção – f: diante de todo esse cenário, tanto tempo em casa, passei quase um ano em tratamento devido a complicações. tempo suficiente para testar suas crenças, quaisquer que sejam. Eu sei de ex-pacientes com câncer que mudaram de profissão, que tiraram um ano sabático, que decidiram ter um cachorro, ou decidiram não ter um. A pandemia também nos trouxe este momento de introspecção e reflexão.
O que esses paralelos refletem no Outubro Rosa e a proposta de campanha de 2020 – Quanto mais cedo melhor? Para mim, alguns pontos são fundamentais: precisamos nos manter em dia com a saúde física, espiritual, emocional e financeira, pois nunca sabemos quando seremos acionados. Que a adoção de um estilo de vida saudável é a regra, e não sob condição. Que não estamos “medindo” dores! Todo mundo conhece a dor de ser quem. E, por fim, a mesma visão de mobilidade para todas as questões que se levantam com a pandemia, de humanização diante do caos, precisa ser dada ao paciente oncológico.
* Marisse Bonfim coordenadora fiscal da Hughes
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