A agitação no Brasil se encaixa no padrão global

Multidões de manifestantes que invadiram os assentos do poder no Brasil levantaram slogans carregados de conspiração contra as urnas eletrônicas, um dos principais alvos de campanhas de desinformação destinadas a minar a confiança nos sistemas eleitorais em todo o mundo.

Apoiadores do ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, que marcharam no palácio presidencial, no Congresso e no Supremo Tribunal Federal na capital Brasília no domingo, exigiram acesso ao “código-fonte” das urnas eletrônicas.

Esse slogan questionava a confiabilidade do equipamento de votação após uma eleição acirrada em que Bolsonaro foi derrotado por seu rival de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva.

A fúria da direita foi o exemplo mais recente do impacto das campanhas de desinformação que tentaram lançar dúvidas sobre urnas eletrônicas dos Estados Unidos à França, Bulgária e Filipinas.

“Este cenário de tumultos e revoltas sobre teorias infundadas alimentadas pela opacidade da tecnologia é muito perigoso para a estabilidade das democracias globais”, disse à AFP Gregory Miller, co-fundador do apartidário e sem fins lucrativos OSET Institute.

O Brasil usa urnas eletrônicas em suas eleições desde 1996, mas só recentemente elas se envolveram em polêmica, com Bolsonaro citando acusações de que elas foram atormentadas por fraudes.

Uma grande vulnerabilidade nunca foi descoberta, permitindo que partidos políticos, judiciário e militares inspecionassem o código-fonte e testes realizados por especialistas em tecnologia para proteção contra hackers.

– Manual Trumpiano –

Os distúrbios brasileiros tiveram semelhanças assustadoras com o tumulto no Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, que alegou que a eleição de 2020 foi roubada dele.

Campanhas de extrema direita alegaram falsamente que máquinas de votação manipularam os votos de Trump em 2020. As empresas de tecnologia de votação entraram com uma série de ações judiciais contra aliados de Trump e meios de comunicação por falsas alegações de que fraudaram a votação.

Ainda assim, os políticos republicanos que promovem a conspiração intensificaram sua retórica anti-máquina antes das eleições de meio de mandato dos Estados Unidos em 2022, quando dois condados de estado indeciso se mudaram para permitir a contagem manual.

O controverso impulso para a contagem de mãos ocorreu apesar dos especialistas americanos alertarem que muitas vezes é menos preciso do que a contagem de máquinas e propenso a atrasos.

Um estudo de 2018 publicado no Election Law Journal analisou duas recontagens em todo o estado em Wisconsin, incluindo a eleição presidencial de 2016. Ele descobriu que “a contagem de votos originalmente realizada por scanners computadorizados foi, em média, mais precisa”.

Mas a retórica anti-máquina continuou depois que a tão esperada “onda vermelha” republicana não se materializou nas eleições intermediárias de novembro.

Steve Bannon, ex-assessor de Trump que foi condenado a quatro meses de prisão por não responder a uma intimação para testemunhar sobre o ataque de 6 de janeiro ao Capitólio, esteve intimamente envolvido na disseminação de desinformação pela equipe de Bolsonaro.

Em novembro, Bannon fez a alegação infundada de que urnas eletrônicas estavam sendo usadas no Brasil “para roubar eleições”. No domingo, Bannon elogiou os manifestantes brasileiros nas redes sociais como “combatentes da liberdade”.

– ‘Controles Robustos’ –

Citando os Estados Unidos e o Brasil, o político francês de extrema-direita Florian Philippot twittou no início desta semana que a votação eletrônica criou “dúvida, fraude, caos”.

Seus comentários seguiram uma série de alegações online de que bugs envolvendo urnas eletrônicas favoreceram Emmanuel Macron no segundo turno da eleição presidencial de 2022, que ele venceu.

As alegações foram amplamente rejeitadas pelos reguladores da mídia, como o NewsGuard, e os verificadores de fatos da AFP desmentiram várias alegações falsas sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas na França.

Mas Philippot ainda duvidava do voto eletrônico.

“Vamos abolir todas as máquinas de votação na França”, escreveu o político no Twitter.

Desconfiança semelhante é generalizada na Bulgária.

Em 2021, o Parlamento búlgaro aprovou uma lei introduzindo votação automatizada em meio a suspeitas generalizadas de fraude em cédulas de papel.

No entanto, as cédulas de papel foram devolvidas no ano seguinte, depois que campanhas de desinformação em andamento minaram a confiança do público nas máquinas. As partes tradicionais assumiram, sem fornecer evidências consistentes, que as máquinas não são confiáveis ​​e são suscetíveis a adulteração.

Para acalmar tais temores, Miller defendeu uma necessidade “urgente” das democracias de tornar a infraestrutura de votação totalmente transparente para o público.

Especialistas como Pamela Smith também instaram os países a coletar “provas de votação concretas” para aumentar a confiança do público na votação por máquina.

“Defendemos um registro físico da intenção do eleitor usado em verificações pós-eleitorais robustas do resultado informado pela máquina com muita transparência”, disse Smith, presidente da organização não partidária sem fins lucrativos Verified Voting, à AFP.

“Todos os países devem trabalhar para esse objetivo. Um resultado eleitoral… não deve ser prejudicado por quem grita mais alto.”

burs-ac/bgs/mlm

By Carlos Jorge

"Proud coffee expert. Webaholic. Zombie guru. Introvert. Avid beer aficionado. Analyst. Total TV practitioner. Award-winning foodie. Student."

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *